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O Globo – Paul McCartney: quem são os brasileiros ‘xarás’ do eterno beatle

O Paul ‘original’ fez o último show brasileiro da turnê Got Back neste sábado (16), no Maracanã 

Paul McCartney fez de tudo em sua mais recente turnê “Got Back” no Brasil. Passou pelo diminuto Clube do Choro, em um show restritíssimo para 300 pessoas, logo que desembarcou em Brasília. E, Minas ensaiou um “uai”, sobre o palco, chamou ainda os paulistanos de “manos”. Mas não para por aí. Em São Miguel do Guamá, no Pará, há notícias de que Paul McCartney dirigiu uma ambulância do Samu. Em Natal, no Rio Grande do Norte, Paul deu expediente na Câmara Municipal e, no Rio, McCartney embarcou para Escócia para estudar inglês. A bem da verdade, essas façanhas são improváveis demais para que o eterno Beatle as tenha realizado. A seleção de atividades figuram como tarefas de outros “Paul McCartney” que moram no Brasil — e levam a vida como homônimos do original.

De acordo com um levantamento feito pelos Cartórios do Registro Civil do Brasil (Arpen) a pedido do GLOBO, são ao menos quatro exemplares de Paul McCartney em São Paulo e Minas Gerais. A reportagem, contudo, também encontrou ainda xarás do Beatle nas regiões Norte e Nordeste. Em comum, os McCartneys brasileiros têm pais (e não mães, diga-se) aficionados pelos Fab Four, e acumulam ainda episódios insólitos que envolvem terem recebido no batismo um dos nomes mais célebres da história da música. Conheça alguns perfis:

Irmão de João Leno e Diana Ross

A timidez de Paul McCartney de Oliveira Monteiro, de 38 anos, o fez cogitar mudar o celébre nome de seus documentos, mas por achar que continuaria sendo chamado da mesma maneira, ele decidiu continuar com a graça de batismo que seu pai, falecido pouco tempo após seu nascimento, escolheu para homenagear seu beatle favorito. Os irmãos, inclusive, seguem a mesma toada de celebrar ícones incontornáveis da música global. São eles: Diana Ross e João Leno (assim mesmo, abrasileirado, embora as pessoas chamem conforme o original).

— Às vezes ter esse nome é meio constrangedor porque sou muito tímido. No hospital, há vezes em que estou numa sala de espera com dezenas de pessoas e tão logo a enfermeira chama “Paul McCartney”, todo mundo para o que está fazendo, fica um silêncio, só para ver quem é que tem esse nome. Tem até quem aponte para mim — relata.

Até na imigração no Reino Unido, para onde viajou para estudar inglês por um curto período, Paul causou entusiasmo entre os oficiais da imigração. Reação a que ele já está mais do que acostumado.

— Em vários lugares tenho que contar a história de que meu pai era fã. Já me pediram até autógrafo — conta. — Acho um nome muito bonito, mas o problema é que sou tímido. Gosto de ficar escondidinho. Mas confesso que ser chamado assim já me ajudou muito. Veja, por exemplo, numa empresa de 100 funcionários você esquece quem é quem, os nomes, mas eu sou sempre lembrado no meio da multidão. E quando tinha promoção no emprego, lembraram logo de quem? Do Paul! Isso junto de um trabalho bom, funciona.

Por dentro da política

Filho único, Paul McCartney Otaviano Santos,de 25 anos, morador de Natal, no Rio Grande do Norte, até procurou mais Pauls para trocar figurinhas, mas só encontrou John Lennons em outras partes do país para manter amizade. “Tem muitos Johns”, ele pondera. O rapaz estuda jornalismo onde mora e dá expediente como assessor na Câmara Municipal de Natal.

— As vezes vou tirar documentos e as pessoas não acreditam. Digo que podem acreditar, é Paul McCartney mesmo. Para falar a verdade, meu pai queria quatro filhos pra montar a banda toda, mas só teve um e a “laranjada” sobrou pra mim — diverte-se.

Apesar da estranheza que o nome causa num primeiro momento, Paul diz que muita gente engaja longas conversas com ele só para saber da onde veio a inspiração para um batismo tão célebre.

— Em consultórios muita gente me chama de Paulo, por achar que esqueceram de colocar a letra “O”. Tão logo eu escuto chamarem por um Paulo sei que é comigo. Mas ao saber que é “Paul” tem gente que acha massa.

Ele confessa que não é lá muito fã do quarteto de Liverpool, só guarda mesmo certa simpatia pelo xará e pela faixa “Hey Jude”.

— Se na próxima turnê ele estiver vivo e nós também a gente se organiza pra ir assistir, se Deus quiser– profetiza. — Meu pai é fã uns 100%, eu sou uns 50%. O que eu queria mesmo era a conta bancária do Paul — confessa.

Fotos com desconhecidos em show

Era pra ser exatamente como o original: James Paul McCartney, mas o cartório — diz a família — não deixou. Então ficou Paul McCartney Soares da Silva para o morador de Osasco, de 28 anos. Ao lado do irmão John Lennon, o rapaz chegou até a ir a concerto de seu mais famoso homônimo, no Allianz Parque em 2014.

— Não contamos ao nosso pai que íamos ao show, foi surpresa. Bichão ficou emocionado quando soube — lembra-se. — Nesse dia coloquei meu RG no peito, colado. Um monte de gente veio perguntar e tirar foto comigo.

A despeito dos jovens que desconhecem o nome, ele diz que gosta de ser um Paul e jamais pensou em ir ao cartório para escolher uma opção mais comum. Ele, inclusive, curte ver a identificação com fãs do quarteto. Em certa ocasião, chegou a ir a um shopping da região para comparecer a um concerto de uma banda cover dos Beatles.

— Chamaram a gente até para subir no palco. Meu pai sempre diz que esses nomes, meu e do meu irmão, têm poder — conta.

Ele jura que a irmã iria se chamar Yoko Ono, mas acabou tornando-se “Carla”, sem muita explicação para a mudança brusca, além da resistência do escrivão da vez.

— Gosto muito da música “Help” e de “Yellow Submarine”, mas não vou conseguir cantar para você agora. Consigo desenrolar melhor quando estou ouvindo junto.

O único filho de Paul também segue o sotaque internacional na graça de batismo: Johnny Alves, 3 anos de idade.

— Achei que ia combinar com o menino.

O McCartney do Samu

Nem todo mundo consegue soletrar corretamente o nome de Paul McCartney Mangabeira Frazão, de 45 anos, socorrista do Samu, em São Miguel do Guamá, no Pará.

— Quem trabalha comigo há tempos já se acostumou, mas por vezes há ocorrências, com apoio, tenho que tirar a tarjeta (do uniforme) para a pessoa ver quem é corretamente — diz. — Na escola tive um colega que chamava Beethoven que me encarnava muito (com piadas). Ele fingia até que estava com uma guitarra nas mãos para brincar comigo, apontando pra mim. Mas nunca dramatizei a situação, achei tudo uma boa.

McCartney Frazão, inclusive, conta que ser homônimo de um artista do quilate de McCartney até rendeu sorte no trânsito. Em certa ocasião, foi parado por um policial rodoviário que surpreendeu-se ao ler seus documentos. No momento, uma das lanternas traseiras do veículo tinha queimado, coisa que Paul, ao volante, não tinha notado.

— Ele disse que não ia me multar porque eu era o Paul McCartney, pediu que eu seguisse por mais alguns metros e trocasse a lanterna numa loja que ficava aberta até tarde. Mas disse que se eu partisse para outro lado e não fosse até onde ele orientou, ia me seguir para multar – ri.

O socorrista, contudo, não está só. Divide o sangue com outro Beatle, John Alexandre Lennon, o irmão mais novo, também fruto da inventividade do pai e com alguma interferência de sua mãe (que tentou ajustar o nome do meio para algo mais brasileiro). O primogênito da família Frazão, contudo, ficou de fora do arranjo por teimosia do cartório. O que era para ser George Harrison, virou “Giancarlo”, para desgosto do pai dos três.

— Tenho vontade de ir a um show, mas mais para contar para Paul McCartney que temos o mesmo nome — diz Paul McCartney.

Fonte: O Globo